sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Dúvidas


            Eu não sabia se deveria sentir ódio ou amar o jeito como ela andava.
            O pano mole da saia de vários babados se mexia em tantos movimentos que achar um padrão me tornava só mais um cara idiota olhando-a. Não olhava o que ela tinha a oferecer por detrás da roupa... Olhava os movimentos.
            Os quadril indo de um lado para o outro, o que me lembrava infantilmente o movimento daquele brinquedo de parque de diversões, que é um barco.
            Eu não sabia se deveria sentir ódio ou amar o jeito como ela me fazia ficar bobo. Ela distribuía sorrisos pela rua, junto de acenos, e malditamente parecia uma miss. Tão simpática.
            Na feira ela tinha o prazer de comer sem levar. Parecia pagar com as próprias mordidas o preço da satisfação do feirante. Eu a acompanhava e também me tornava vítima de todo o charme.
            Às vezes eu sentia como se ela me puxasse por uma corrente invisível, amarrada ao meu pescoço. Era a minha dona em silêncio, porque fingia que não me possuía, assim como eu fingia não estar possuído por tanto libido, vindo dela e de mim.
            Eu não sabia se deveria sentir ódio ou amar o jeito como seus cabelos castanhos ondulavam e cacheavam.
            Segui-los em tantos movimentos era uma tarefa difícil. Subiam e desciam, iam de um lado para o outro. Pareciam pesados, mas o vento facilmente os fazia virar ondas num mar escuro sem água.
            Aproximar-se deles era sentir o melhor dos odores. Eu tinha a impressão de cada dia ela os lavava com um shampoo diferente, porque cada dia o perfume mudava, mas coincidentemente eram sempre os meus cheiros favoritos.
            Eu não sabia se deveria sentir ódio ou amar o jeito como eu sempre era posto para trás.
            Cercava-me a impressão de que eu sempre a seguia. Podíamos começar o mesmo caminho juntos, mas no minuto seguinte ela estava à frente, como se quisesse parecer o que ela era: livre. Na verdade eu me contentava em crer que ela simplesmente queria me seduzir com os quadris, cabelos, odores...  
            Ela não precisava de um cara ao seu lado, lhe dando proteção e lhe servindo de placa “sou comprometida”. Ela era minha, mas não era. Tínhamos uma relação, mas não tínhamos. Não da porta de casa para fora.
            O problema é que quando estávamos juntos, ela me fazia acreditar que não existia mundo além da nossa cama.
            Algumas vezes eu chegava a acreditar que ela mandava em cada pedaço daquele quarto.
            Ela era quem media a quantidade de luz que entraria pela janela delgada e atingiria se corpo moreno envolto pelo lençol branco que a serpenteava.
            Ela era quem selecionava as poeiras que pairavam no ar contra a mesma luz, escolhendo só as que brilhassem e fosse tornar sua imagem ainda mais divina.      
            Ela era também quem controlava o tempo, e deixava tudo isso em câmera lenta, mas muitas vezes tão rápido que fazia a cama ranger. E então, consequentemente, ela era quem regia toda a nossa sinfonia, com sons ora altos, ora baixos, ora rosnados, ora estalados...
            Eu não sabia se deveria sentir ódio ou amar quando ela parava de repente e me fazia se chocar contra seu corpo, devido à inércia.
            Ela se virava para mim com as sobrancelhas formando um V e falava tantas coisas, reclamando do esbarrão, mas logo eu começava a rir e ela me acompanhava na risada.
            Eu ria porque achava engraçado o fato de não estar prestando atenção em nenhuma das palavras de reclamação dela, mas sim nos olhos. Olhos esses que eu ainda sim, depois de um bom tempo, não sabia de que cores eram.
            Eram das minhas cores favoritas.
            Eu não sabia se odiava ou amava tê-la, mas não ter.
            Viver com ela era dividi-la com cada olhar na rua.
            Ela não sabia, mas eles não a olhavam como eu olhava. Eu não sabia, mas ela não precisava do meu olhar, e sim do olhar deles.
            Ela não queria amor, romance, paixão. E talvez por sentir tudo isso pela bela, muitas vezes eu me confundia e a odiava. Pergunto-me se a amo mais do que odeio, ou se odeio mais do que a amo. 
            Deveria eu odiar quem amo? Não parecia o correto, mas odiava o fato dela não me amar, e disso eu não possuía dúvidas. 

quinta-feira, 24 de maio de 2012


Era isso. Paixão. Não era baseada no passado, nem no futuro. Só no presente. Não importava o que a pessoa havia sido, feito, falado... Muito menos o que seria, faria ou falaria. Não considerava alergias, mas toda nova informação era bem vinda como material para uma coisa muito mais sólida. Era gostar de como o tempo ficava melhor por estarem juntos, sem realmente haver pressão ou qualquer coisa que pudesse atrapalhar. Era só querer estar. E estar de novo, e mais um pouquinho. Era sorrir para a pessoa  e ver como ela de certo modo te encantava e te fazia querer esquecer de todo o resto pelo seu momento a sós.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

- Dê-me um minuto. Pediu ele antes de saírem, indo no banheiro e respirando fundo. Ela não precisava do amor dele. Amor esse que ela nem se quer havia pedido por. Amor esse que de fato ele nem oferecera, mas  na verdade oferecia todos os dias em pequenas ações. Só que não na imensidão exata.

A coisa mais linda do mundo



Apaixonar-se é conviver com uma pessoa e depois de um tempo - tempo esse que você foi babaca o bastante fingindo que isso não estava acontecendo - perceber que está ao lado de uma pessoa que é perfeita em todos os sentidos pra você, não só aparentemente ou financeira-mente. Isso vem daqueles pequenos detalhes, tipo as conversas bobas e os risos mais ainda, que te fazem pensar em como você gosta de ver aquela pessoa sorrir, porque tem lábios lindos e o som pode parecer estranho por ser alto demais, mas é o melhor som do mundo. 

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Foi só um sonho ruim, mas era tão real.

Ela abriu os olhos e queria voltar a dormir, mas isso a assustava. Talvez não o suficiente para impedir o sono.

Ela confiava nele mais do que tudo no mundo. Ele era seu ponto de bondade no meio de todo caos. Era dele que vinha a fé para acreditar que as pessoas não eram todas imundas. Imagine só, estar errada.

Ela, no começo, fingiu não se importar. Contaram-na o que ele fez e ela simplesmente sorriu. “- Você não vai fazer nada?” a outra latiu na sua cara com toda a falsidade que carregava. Ela negou com palavras. Não precisava que a outra soubesse como tudo havia perdido o sentindo. Estavam todos juntos, num reunião casual e ao saber disso ela o levou dali. Receber a confirmação do que a outra lhe dissera, vinda dele, foi como uma facada cravada nas costas, que lhe cruzava transversalmente de modo lento. Por que ele fizera aquilo? Ela não era o suficiente? Ele não jurava tanto amor? Vagou nas ruas procurando um amigo, só um, mas não havia ninguém. Sangrava mesmo que ninguém visse. Canalha! Ele nem merecia todo aquele sofrimento. As lágrimas lhe inundavam os olhos e riscavam o rosto, misturando-se a maquiagem. Os soluços quase a sufocava, mas dane-se. Não poderia ficar pior. Ele era a última pessoa, a última que ela poderia imaginar que a machucaria assim. Ele e todas as suas palavras bonitas. Ele e todo o seu porte sério. Ele e toda sua devoção. Quando poderia ter acontecido? Quando de fato ele começara a talhar aquela ferida pelas suas costas, de baixo para cima, que no final do corte já tão fundo chegara ao coração?

Ela não queria terminar aquilo o que tinham, mas percebia que não tinham mais nada. Sentia nojo, repulsa, frustração, tristeza. Como olhá-lo novamente?

Ela não queria ter que tomar aquela decisão, por que a vida pareceria incompleta na ausência dele, mas pior ainda a vida seria uma mentira se simplesmente o perdoasse.

Por sorte, fora só um sonho angustiante.

terça-feira, 2 de agosto de 2011


O que difere a morte da vida são os sonhos, pois quando descansamos eternamente eles não nos importam mais.

Olhos fechados


Por quanto tempo mais esperar?
Um tempo marcado por ponteiros cegos
Todos temos medo de errar
Mas mesmo assim eu me entrego

E antes que o dia amanheça
Me livrando da escuridão
Peço antes de dormir que não me esqueça

Pois nada foi em vão.